8 de dezembro de 2008

A sério?

«O Mestre zen Hakuin vivia numa cidade japonesa. As pessoas tinham uma grande estima por ele e procuravam-no para que lhes concedesse orientação espiritual. Um dia, a filha adolescente do seu vizinho do lado engravidou. Quando os pais, severos e irados, questionaram a filha acerca da identidade do pai da criança, ela acabou por lhes dizer que era Hakuin, o Mestre zen. Tomados pela fúria, os pais apressaram-se a confrontar Hakuin e disseram-lhe por meio de acusações e de muita gritaria, que a filha tinha confessado ser ele o pai da criança. Ele limitou-se a replicar: "A sério?" A notícia do escândalo espalhou-se pela cidade e para além dela. O Mestre perdeu a sua reputação, mas isso não o preocupou. Ninguém voltou a procurá-lo. Ele permaneceu inabalável. Quando a criança nasceu, os pais da rapariga levaram o bebé a Hakuin. "Tu és o pai, por isso, toma conta da criança." O Mestre tratou da criança com muito amor. Um ano mais tarde, com remorsos, a mãe confessou aos pais que o verdadeiro pai da criança era o jovem que trabalhava no talho. Em grande aflição, foram ter com Hakuin para lhe pedir desculpa e o seu perdão. "Lamentamos muito. Viemos buscar o bebé. A nossa filha confessou que o senhor não é o pai desta criança.""A sério?", proferiu simplesmente Hakuin ao devolver-lhes o bebé.
O Mestre responde à falsidade e à verdade, às boas e às más notícias, exactamente da mesma forma: "A sério?" Ele permite que a forma do momento, boa ou má, seja o que é e, portanto, não participa no drama humano. Para ele existe apenas o momento presente tal como ele é. Os acontecimentos não são personalizados. Ele não é vítima de ninguém. Ele é de tal forma uno com o que acontece que o acontecimento já não tem qualquer poder sobre ele. Só ficamos à mercê do que acontece se resistirmos ao que acontece e deixarmos o mundo determinar a nossa felicidade e infelicidade. O mal transformou-se em bem através do poder da não resistência.»
Eckhart Tolle in Um Novo Mundo

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